escrever sobre suas emoções vai te ajudar muito
principalmente se você vive uma relação abusiva com a ansiedade
“escrever é dar sentido para tudo aquilo que eu tô sentindo, ainda que tudo pareça não fazer sentido.” - uma paciente que tive
falar sobre escrita terapêutica me faz lembrar de todos os pacientes que tive - e ainda tenho - a oportunidade de notar que, ao usarem a escrita como mais uma ferramenta nessa jornada de cura e autoconhecimento, puderam - e ainda podem - lembrar que as emoções deles sempre serão válidas, ainda que somente para eles mesmos. ainda que ninguém os ouça. ainda que, ao pedirem ajuda, a frustração seja iminente. ainda que a criança que um dia foram, ainda sente que está sozinha - dedico esse primeiro texto inclusive a essa turma.
lembro de uma vez que ouvi de uma paciente uma das respostas mais sinceras que já conheci sobre o que a escrita significa, ao menos pra ela: “escrever é dar sentido para tudo aquilo que eu tô sentindo, ainda que tudo pareça não fazer sentido.”
pra quem carrega a dor da ansiedade, sentir é inevitável. pensar é demasiado. escrever é poder por pra fora tudo o que poderia permanecer recalcado. tudo o que poderia se transformar em crise.
quando a ansiedade chega, somos tentados a acreditar que somos capazes de controlar nossas emoções. nesses momentos até nos culpamos por não ter tamanha habilidade. ou pior, nos culpamos até por aquilo que não teve e não tem a ver com a gente. nessas horas, caímos na pressão de ter que mais uma vez provar da nossa suficiência.
não é toda hora que temos com quem contar, pra quem desabafar. na verdade, se depender da nossa ansiedade, pedir ajuda não é nem uma opção. quem dirá se vulnerabilizar a ponto de depois ter que lidar com a frustração por mais uma vez ter recebido apenas mais julgamentos. quando não, mais uma vez fizeram ser sobre a pessoa, e não sobre quão válido é o que você sente.
eu não fui uma criança e adolescente com muita intimidade com a escrita. eu não tive diário. não fiz parte das pessoas que sabiam que ainda que você não sente que é potente, capaz, livre pra se expressar. ainda que pareça que ninguém quer te ouvir. você tem, com a escrita, alguém que você pode contar. VOCÊ. talvez a pessoa do outro lado não diga nada. mas certamente está ouvindo. eu não tinha essa clareza.
hoje em dia eu tenho um caderno que deixo na minha estante de livros. sempre que pego um livro pra ler. sempre que termino uma sessão com paciente. sempre que converso com a mari. lá vou eu rabiscar algum traço que signifique uma lembrança de que tenho o direito de dar sentido para o que sinto. ao menos tentar.
quando não é no caderno que escrevo o que sinto, penso, aprendo. escrevo onde tem como mesmo. onde dá. por exemplo, tenho um grupo no whatsapp comigo mesmo. algo que acho que todo mundo tem, não? se não tem, tenha agora kkkk.
não é necessariamente sobre onde escrever, mas escrever. é escrever o que vem no pensamento. é escrever o que tem de sentimento. é escrever sem medo de não ter o controle. é sobre perder o controle mesmo do que diz. sem medo. sem receio.
pensamento e sentimento é o que não falta na vida de quem sofre com ansiedade. mas pra onde tudo isso tá indo? tudo isso tem fluído, seguido o percurso natural? ou tem feito morada e sobrecarregado você?
escrever tem me ajudado, há um bom tempo já, acima de tudo, a perceber. acolher. validar. orientar tudo o que sinto (e não são poucas as emoções).
"tenho vontade de escrever e necessidade ainda maior de desabafar tudo o que está preso no meu peito. o papel tem mais paciência do que as pessoas." - anne frank
escrever não é necessariamente sobre você ter a obrigação de solucionar um problema. escrever não precisa ser sobre você seguir mais um método. escrever talvez seja sobre você se lembrar que você tem o direito de se expressar. e o fato de não conseguir por pra fora, ou de saber que não tem muito com quem contar, é justamente o que tem feito você sofrer com a ansiedade.
quando falo sobre escrita terapêutica, não anulo, de forma alguma, a relevância que outras ferramentas possuem quando se trata de cuidado com as emoções. escrita terapêutica é também sobre acolhimento. é sobre ter com quem falar. é sobre colocar em palavras aquilo que tanto sente.
a escrita terapêutica é sobre você ter um lugar confiável pra ser quem você é. ou melhor, ter total segurança para ressignificar aquilo que você teve que ser. pra reescrever sua história.
você pode começar agora mesmo. usando seu celular, o bloco de notas. você pode pegar um papel e uma caneta (ou lápis). você pode ter um diário. um caderno de anotações. ou você pode usar esse espaço do e-mail. inclusive…
reflexão da semana 💭
quero propor um exercício prático pra começarmos juntos essa jornada de escrita dando o primeiro passo com você:
se você tivesse a oportunidade de escrever uma carta, para a criança que você foi no passado, contando sobre o que sente ao pensar nela, o que você escreveria?
caso queira, pode responder esse e-mail mesmo com a sua carta, quero ler e se possível, te responder.
quer assistir essa edição em vídeo? 🎥
subi essa mesma edição só que em vídeo lá no meu canal do youtube. pra assistir é só clicar no botão abaixo.
sobre terapia online comigo 🤎
tem vontade de começar a fazer terapia? se sim, pode me chamar no whatsapp clicando no botão abaixo. eu te passo todas as informações pra voce conseguir agendar suas sessões :)
nos falamos no próximo domingo às 20h20. na hora da deprê do fantástico.
um grande abraço, guilherme medina 🤎
Que texto legal de ler! Comecei a escrever esse ano para outras pessoas terem acesso, mas, mais do que a reação dos outros, escrever tem me feito um bem danado em relação aos meus sentimentos, minha ansiedade e de quebra ter acesso a pessoas com experiências parecidas. Pra mim tem funcionado muito e espero que outras pessoas experimentem colocar sua emoções em palavras. Excelente texto! Quero muito fazer uma carta para mim eu do passado, amei a sugestão 💜
Que texto incrível, Guilherme! É incrível o poder que as palavras têm, né? Seja pra passar uma ideia, causar uma emoção, ou só pra tirar as confusões do peito. Eu sinto muitas coisas e sempre tentei ter um diário, mas nunca consegui criar esse “hábito”, até perceber que demonstrar emoções não precisa ser um hábito, só tem que acontecer quando você sentir vontade. Sempre escrevi, mas esse lugarzinho aqui tá sendo um refúgio muito legal. ❤️